Entrevista
Meio Ambiente. Sim! Nós nos importamos.
Cléo Pinheiro, Assessora de imprensa IA+
23 de julho de 2018
Você vai conhecer a trajetória da Cintia e do Evaldo, os dois jovens que criariam o IA+. Nesta entrevista, eles contam o que motivou a criação do Instituto, falam sobre desenvolvimento sustentável e comentam o sucesso do App Meu Ambiente, uma ferramenta tecnológica que tem revolucionado a maneira de denunciar crimes ambientais no Amazonas.
QUEM SÃO OS FUNDADORES DO INSTITUTO AMAZÔNIA MAIS?
Cintia: Cresci em meio à floresta, já que nasci em Manaus, mas parte da minha família vive no interior e por isso eu sempre estive na mata, tomando banho de rio, tendo contato com os animais. Essa vivência construiu em mim uma ligação afetiva com a natureza que culminou na minha formação profissional: Engenheira Florestal. Viajei pelo Amazonas por conta da minha profissão e conheci de perto a realidade do meu estado. Então, a paixão e o conhecimento não me permitiram ficar de braços cruzados.
Evaldo: Com a minha empresa, a e-Soluções, tive experiências de fornecer soluções para o poder público e percebi que muitas ações deixam de ser feitas em prol da região porque não são empregados recursos tecnológicos e também pela falta de senso de coletividade daqueles que têm o poder. Diante da minha insatisfação, decidi compartilhar o que aprendi profissionalmente e contribuir com o bem da minha terra. Esta é a minha maneira de dizer “Eu amo o Amazonas”!
Juntos: Decidimos unir os nossos conhecimentos, a nossa expertise em Tecnologia, Gestão Pública e Meio Ambiente e temos nos esforçando para, dentro das nossas possibilidades, colaborar com o crescimento da nossa região.
O que toca o nosso coração é o desenvolvimento sustentável do Amazonas, e acreditamos que isso só será possível se deixarmos a Floresta Viva, dentro e fora de nós, pois ela é a nossa maior riqueza.
Então, o que nos move é a vontade de ver o nosso Estado progredindo e as pessoas valorizando as potencialidades que a gente tem, não apenas a fartura ambiental, mas também a cultural. Pensamos que é necessário fazer o amazonense entender que pode mudar a realidade dele sem ficar dependendo unicamente do poder público ou da Zona Franca de Manaus. E foi isso que nos motivou a criar o Instituto Amazônia Mais, a disposição em contribuir para o desenvolvimento do Amazonas e fazer com que o amazonense valorize o que é genuíno, o que nos diferencia de qualquer outro povo em todo o mundo, o que a natureza nos deu e o que nossos antepassados indígenas e ribeirinhos construíram aqui.
COMO SURGIU O INSTITUTO AMAZÔNIA MAIS
Cintia: Apesar de sempre trabalhar na área ambiental do estado, nenhuma das experiências que tive supria a minha necessidade de dedicação ao coletivo. Então, iniciei trabalhos voluntários, entre eles o Ondedescarto.com. Foi aí que enxerguei a oportunidade de utilizar o meu conhecimento profissional em prol da minha cidade.
Evaldo: Paralelo aos trabalhos da e-Soluções, desenvolvi um projeto que expressava a minha fascinação pela cultura local, o projeto Tipiti. Esse envolvimento me fez perceber que eu poderia juntar tecnologia e valorização cultural amazonense.
Juntos: Ambos já exercíamos o voluntariado em prol do Amazonas e decidimos institucionalizar o que já existia, a partir disso pegamos os projetos que amávamos e colocamos “debaixo do guarda-chuva” do Instituto Amazônia Mais. Foi a maneira que encontramos para nos dedicarmos mais ao nosso desejo de contribuir com o nosso estado.
COMO SURGIU O APP MEU AMBIENTE?
Juntos: Em 2015, Manaus passou vários dias encoberta por uma nuvem de fumaça. A cidade sofreu com os efeitos de queimadas registradas na capital e no interior do estado, sobretudo no Sul do Amazonas e Região Metropolitana, além da influência do fenômeno El Niño.
Olhar para a cidade daquele jeito nos fez entender que esse tipo de situação ocorre porque as pessoas continuam queimando áreas de vegetação indiscriminadamente já que não existe fiscalização efetiva que garanta a aplicação das leis ambientais. Com base nisso, pensamos no que poderíamos fazer para que os infratores fossem vistos e punidos. Foi quando surgiu a ideia de criar um Aplicativo para possibilitar que o cidadão, com essa ferramenta na mão, pudesse denunciar a prática de queimadas.
Dividimos essa ideia com amigos bem próximos (o Eric e a Adriana) que apoiaram a ideia em então criamos a primeira versão do App Meu Ambiente. Na época, a e-Soluções cedeu seus funcionários e tecnologia para a criação do App e a Cintia fez as pesquisas e reuniões junto aos órgãos ambientais.
Então, começamos a estudar sobre o assunto, mergulhamos em leituras sobre o processo de fiscalização ambiental, visitamos todos os órgãos no Amazonas e verificamos quais eram as deficiências que eles tinham. Logo percebemos que existia uma grande dificuldade não apenas em atender as denúncias com relação às queimadas, mas todos os outros tipos de crimes que a legislação aponta.
Decidimos criar o App ao verificar que o governo não tinha ‘braços’ e ‘olhos’ em toda a imensidão territorial do Amazonas e uma ferramenta tecnológica poderia fornecer uma forma de ver e alcançar essas localidades, por mais distantes que elas estejam.
Isso tornaria possível que o poder público tomasse decisões pautadas em dados concretos. Então, no início, o App foi pensado para denúncias de queimadas, mas à medida que nos aperfeiçoamos no assunto, percebemos a necessidade de o serviço contemplar também outros crimes contra o meio ambiente.
Outra vantagem do App, que verificamos logo no início, foi a possibilidade dessa ferramenta servir de ponte entre o cidadão e o poder público, visando a solução dos crimes ambientais, já que, conforme constatamos, e é de conhecimento público, existe muita insatisfação do usuário em relação aos canais oferecidos pelos órgãos para o recebimento de denúncias. Fizemos pesquisas com as pessoas e ouvimos queixas como: “Não sei para quem ligar”; “já liguei, mas o telefone não atende”; “não ligo porque sei que nada será feito a respeito”. Em todos os levantamentos que fizemos, entre os anos de 2011 e 2015, esse cenário sempre se repetia.
Nesse sentido, percebemos que o App poderia ser um canal através do qual a voz do cidadão poderia ser ouvida 24 horas por dia, sem burocracia, sem filas e sem espera ao telefone.
Então, toda a nossa tecnologia foi criada com base em pesquisas que procuraram detectar a real necessidade tanto do cidadão quanto do poder público. Um desses levantamentos, o Diagnóstico dos Canais Existentes no Amazonas para Denúncias de Crimes Ambientais, foi feito em 2016, através de entrevistas com os órgãos e com a população e também pesquisas na mídia local.
QUAL A SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO AOS BONS RESULTADOS DO APP MEU AMBIENTE?
Juntos: Em dois anos, o App chegou à marca de cinco mil downloads e consolidou parcerias importantes. Isso nos permitiu contemplar a concretização do nosso objetivo ao criar o Instituto Amazônia Mais: contribuir com o desenvolvimento sustentável do Amazonas utilizando as nossas habilidades. Ver que os órgãos ambientais começaram a abrir suas portas para essa possibilidade nos deixa muito felizes porque nós acreditamos na ideia, na eficiência da ferramenta e na necessidade de que ela existisse, por isso insistimos para implementá-la, e aos poucos as vitórias foram acontecendo, passo a passo.
É uma satisfação muito grande poder colaborar com o desenvolvimento do nosso Estado. Temos uma equipe enxuta, isso nos exige muito, mas está valendo muito a pena por todas as pequenas vitórias que conquistamos.
Ter a parceria do Ministério Público Federal foi o grande impulso para a nossa solução do App ser implementada. Quando, muitas vezes, pensamos que não ia dar certo, o fato de ter um parceiro tão importante acreditando em nós, fez com que nós mesmos também acreditássemos.
Foi uma união que deu certo e sabemos que isso é uma via de mão dupla porque o Ministério Público também precisa saber como os órgãos de proteção ambiental estão atuando. É uma parceria boa para ambos os integrantes: Para o IA+, os órgãos públicos, o Ministério Público e o cidadão. O impacto que estamos causando é muito maior do que apenas denúncias sendo apuradas e problemas sendo resolvidos, estamos fazendo com que a população se engaje no propósito de cuidar do meio ambiente.
QUAIS ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL VOCÊS APONTAM?
Juntos: A Amazônia tem um grande potencial turístico. Já tivemos a oportunidade de ir ao exterior e percebemos que as pessoas, quando se referiam ao Brasil, falavam da Floresta Amazônica e do Rio de Janeiro. O mundo está com os olhos voltados para esta região não apenas pelas suas riquezas naturais que podem ser transformadas em produtos medicinais, por exemplo, mas também por causa da cultura. A floresta tem uma energia muito positiva e existe um público específico para imergir aqui, turistas que querem mais que uma simples viagem, desejam visitar a floresta e ter uma experiência com o natural, com as raízes indígenas, conhecer o nosso jeito caboclo.
Então, uma maneira eficaz de divulgar a Amazônia é sendo a gente mesmo e valorizando o que temos de melhor.
As pessoas também se interessam pelo artesanato amazonense, que é fruto de um saber milenar preservado pelos índios, de geração em geração, e por isso é único, peculiar, carregado de tradição e de valor histórico.
Uma outra maneira de chamar a atenção dos turistas é oferecendo a eles os nossos alimentos. Há frutas, por exemplo, como o cupuaçu, que só cresce aqui na nossa floresta e é desejado por muitos. A nossa culinária, como um todo, com sua herança indígena, também é muito apreciada. Oferecer boas experiências de contato com a natureza e com o nosso povo, com infraestrutura e cortesia, certamente vão deixar nos turistas uma imensa vontade de voltar.
AS BANDEIRAS DO INSTITUTO AMAZÔNIA MAIS PODEM SER SUAS TAMBÉM
Juntos: Nós nos dedicamos a oferecer soluções que mantenham a floresta viva! Para nós, floresta viva significa meio ambiente equilibrado, populações tradicionais vivendo de acordo com sua cultura e cidades sustentáveis. Incluímos cidades nesse contexto porque entendemos que cidades que respeitam a natureza cooperam com a conservação da floresta.
Nós juntamos todas as nossas crenças, dons naturais e habilidades profissionais e decidimos nos dedicar ao nosso próximo, por meio do Instituto Amazônia Mais. E, de pouquinho em pouquinho, estamos crescendo, celebrando sempre as nossas “pequenas grandes vitórias”.
Uma frase que se adequa a este momento, pela realidade que nos cerca é: “O caminho se faz caminhando”. No IA+, a gente cria, avança, erra, corrige, avança de novo, e as oportunidades aparecem pelo simples fato de não ficarmos de braços cruzados.
Você sabe o dom natural que tem, sabe o que te incomoda e, com certeza, deve fazer bem alguma coisa. Pega tudo isso e usa pelo bem do próximo, você vai ver que a vida fica mais linda e leve! E se você se identifica diretamente com as nossas causas, pode nos apoiar com seus dons e talentos naturais e profissionais, ou fazer doações para que possamos ampliar nossos impactos.
NOSSAS CRENÇAS
Acreditamos no poder do empreendedorismo para mudar realidades e reconhecemos a riqueza cultural do nosso estado, por isso criamos o projeto Tipiti.
Acreditamos no empoderamento do cidadão para proteger a natureza, por isso criamos o App Meu Ambiente.
Acreditamos na responsabilidade compartilhada, por isso continuamos com o Ondedescarto.com.
Acreditamos na riqueza da troca de saberes, por isso realizamos o TEDxEncontroDasÁguas.