OPINIÃO

E o que Manaus tem a ver com os oceanos poluídos?

Cintia Fernandes, Diretora Executiva IA+

15 de junho de 2018

Vamos fazer um simples exercício para perceber qual a nossa participação, enquanto manauaras, nessa tragédia ambiental?

Pode parecer um pouco elementar, mas vale a pena relembrar o percurso das águas: Manaus foi presenteada com muitos igarapés que, como veias, conectam nossa cidade de norte a sul e leste a oeste. Esses igarapés desembocam no rio Negro, que por sua vez, encontra o rio Solimões e juntos formam o grandioso rio Amazonas. Este majestoso rio Amazonas, então, vai correndo no seu ritmo para encontrar o oceano Atlântico.  Portanto, até parece distante, mas nossos atos aqui, na terrinha, refletem quase que imediatamente nos nossos rios e consequentemente nos nossos oceanos.

Então, sim, cada canudo descartado incorretamente pode ser o responsável por preencher o estômago de um animal marinho, mas também pode sufocar um tracajá que habita nos nossos igarapés e rios amazônicos. As imagens da quantidade de plástico nas entranhas de animais, mortos por essa razão, são realmente impressionantes; e acredito que alguns de nós também já presenciamos garças com sacolas plásticas amarradas aos pés, nos cenários poluídos de Manaus.

Oceanos, mares, rios ou igarapés têm recebido a descarga de resíduos que o morador de Manaus, gente da floresta, erroneamente descarta. Enquanto se leva apenas segundos para descartar uma garrafa pet no igarapé, se a mesma boiar no rio Negro, em menos de 10 dias chegará no oceano Atlântico (considerando a velocidade do rio Amazonas que é de, no máximo, dois metros por segundo, conforme o Observatório Nacional, em 2011, e a distância aproximada de Manaus com relação ao referido oceano, pelo Google Maps).

A ONU atualmente destaca o tema oceanos com o objetivo de promover a ODS 14, que visa a Conservação e o uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável, mas nós, moradores de Manaus, da beira do rio Amazonas, somos tão responsáveis pelos oceanos quanto pelos nossos rios e igarapés. E para tanto, cabe, além de refletirmos, também entrarmos nessa onda de ações para transformação e por um mundo mais limpo e livre de plásticos.

Algumas ações podem contribuir para a minimização da poluição causada pelo plástico:

  • Consumir conscientemente: evite comprar produtos que rapidamente vão para o descarte, evite usar canudos descartáveis – hoje temos a opção de canudos reutilizáveis;
  • Usar menos sacolas plásticas: você pode reutilizá-las várias vezes ou usar ecobags;
  • Separe seu resíduo e o descarte em associação de catadores, pontos de entrega voluntária da prefeitura, ou em qualquer ponto disponível na plataforma ondedescarto.com, ou ainda se informe se o caminhão da coleta seletiva passa na sua rua;
  • Denuncie o descarte irregular de resíduos, por meio do aplicativo Meu Ambiente.

Os dados do App Meu Ambiente apontam como 3a maior quantidade de denúncias, o descarte irregular de resíduos, o que equivale a 17% dos registros recebidos em dois anos. Então, podemos dizer que além de queimar lixo (23%), perturbar os outros com som alto (18%), o morador de Manaus, que pode desfrutar a beleza da floresta, também joga bastante lixo no lugar errado. Esse lixo, se fosse descartado corretamente, ou pelo menos colocado na lixeira, além de proteger o meio ambiente, apoiaria o trabalho dos catadores.

E o descaso com o descarte correto do lixo não se limita aos cidadãos de baixa renda não, pois a segunda zona que mais realiza denúncias é a centro-sul, com destaque para o bairro Parque 10, que fica atrás apenas dos enormes Cidade Nova e Nova Cidade, segundo dados do Instituto Amazônia Mais.

Como manauaras, ou moradores de Manaus, temos nossa parcela significativa de contribuição para que nossos igarapés, rios e mares possam ser usados de forma sustentável, e o mínimo que podemos fazer é separar o resíduo para reciclagem e descartá-lo no lugar correto.